A moda é fútil ou a gente que tem consumido errado?
Com o surgimento do projeto PAN no TikTok e as milhares de gafes sociais que vemos influs fazendo por aí, tenho pensado…
Olá, amores e monetes! Hoje, não vim trazer fofoquinhas e, sim, uma reflexão / opinião sobre como temos consumido atualmente.
Minha for you do TikTok, mesmo lotada de P Diddy e ex da Giovanna, me impactou com a seguinte frase “A moda é tão poderosa que, às vezes, dá voz a quem não tem nada para falar”, dita pela icônica Thai de Melo Bufrem em entrevista à Marie Claire. Quando eu ouvi isso, comecei a pensar diversos pensamentos, unido a reflexões sobre as diversas pessoas entrando no tal do projeto PAN, e quero compartilhar com vocês.
Mas aí, você se pergunta, que diabos é projeto PAN e calma eu vou te contar, mas antes, quero te dar alguns contextos.
Trabalho com moda há uns 10 meses, mais ou menos, mas consumo conteúdos de moda a anos. Obviamente, já contei para vocês que jornalismo surgiu na minha vida depois de Diabo Veste Prada. Logo para mim, antes de entender moda como cultura, história e marco temporal de uma sociedade, eu achava que moda era apenas ter as peças que foram desfiladas na semana de moda ou que estavam fazendo sucesso entre as famosas e blogueiras de moda.
Olhando para esse contexto, para mim faz muito sentido que minha geração e algumas antes e depois tivessem o mesmo pensamento que eu, era tudo o que víamos quando se falava de moda.
Até que começamos a ver onde todo esse consumo desenfreado nos levou. Afinal, a indústria têxtil é a que mais polui em todo o mundo, isso mesmo, nossas roupinhas e várias outras coisas que são derivadas de tecidos são um dos principais agentes para a poluição que vemos hoje. Isso é culpa sua ou minha? Não, somos meras peças guiadas pela mão invisível do mercado.
Aí, meus colegas, vocês se perguntam: tá, mas o que isso tem a ver com o projeto PAN e a fala da Thai? Eu explico! O projeto PAN surgiu lá em 2017 com o nome “Makeup pan” no Reddit, porém ganhou destaque esse ano no Tik Tok. Basicamente, a trend é nos forçamos a usar pelo menos 10 produtos nossos até o fim, antes de comprar um novo. O foco dela é no mercado da beleza, mas acho que quando falamos de consumo, a moda e a beleza se conversam, até porque, o mercado nunca foi tão aquecido como agora.
Quando eu vi isso, falei, uai mas deu faço isso desde sempre. Até porque, eu nunca tive dinheiro para ter várias maquiagens, produtos ou peças de roupa. Cresci com aquela ideia de que só compramos roupas no fim de ano, porque sua mãe recebeu décimo terceiro. E esse conceito me segue até hoje, compro quando tenho muita necessidade de algum produto ou quando não tenho mais nada para usar.
Talvez seja por isso que consumi roupas de baixa qualidade por muito tempo, porque às vezes, o investimento daquele momento não ia ser viável para mim.
Nos venderam a moda como fútil
Nós crescemos com o entendimento de que a moda era isso, consumir tendências, criar novas, dar hype para marcas caras e voltar a consumir. Isso estimulou as indústrias de fast-fashion a criarem coleções cada vez mais rápidos para vender a um preço baixo com qualidade mais baixa ainda (a parte do preço ainda é questionável), o que força barateamento de mão de obra a um nível escravista (vide caso Zara).
Tendo vivido a minha adolescência no auge das blogueiras de moda e os anos ouro do YouTube, para mim ser fashionista era ter um walking closet, com roupas caras que você iria usar uma vez e nunca mais, uma penteadeira com 20 bases, 50 batons e assim vai. Para muitos, essa é uma realidade viável, mas tem um custo muito alto, não para a pessoa que comprou, mas para toda nossa sociedade.
Consumir e ter várias coisas no seu armário é vendido como sinônimo de status, principalmente, se você vem de uma realidade pobre e periférica. Lembro que quando comecei a receber um salário mais pá no meu estágio, eu só quis comprar todas as roupas que passava e só olhava, comprei diversas maquiagens que eu nem usava. Meu sinal de ascensão naquela época era ter roupas e produtos novos sempre.
E muitas vezes para gente, isso é ser uma pessoa atenta no mercado, excluindo toda a simbologia que a moda e a beleza tem na vida das pessoas. É aí que nos enganamos, esses não são assuntos fúteis e de mero consumo, eles contam uma história, antes mesmo de você ter a chance de se apresentar, sua escolha de look ou o batom escolhido para aquele dia tá falando por você e não importa se custou R$50 ou R$500 reais.
Moda não é só sobre valor, estilo não se compra com cartão de crédito!
Por isso, me causa tremenda agonia quando vejo as meninas de 15, 16 anos se vestindo como faria limers ou todas iguais, forçando uma elegância inexistente. Isso leva a compras de peças desenfreadas para caber em uma tendência que morre meses depois e você vai continuar sustentando aquele look?
Nos descobrir e saber como queremos transparecer aquilo que somos, demora tempo, leva repertório, vivência. Nesse meu período recebendo salário bom, pela primeira vez, eu, com toda certeza, não me vestia como Analu, nada ali refletia minha essência. Compreendam, eu posso vestir a melhor alfaiataria, se não me elevar, é apenas uma peça de roupa. É o conjunto que conta história.
Sou fã das pessoas que se vestem como querem sem ligar para o que tá bombando no Pinterest ou no Instagram, que se vestem para elas. Seja uma menina com uma vibe Bebel de Paraíso Tropical ou como uma girlboss. Mas se minha opinião vale algo, para você ser uma girlboss vai além do conjuntinho que você está vestindo, é a atitude.
No fim, nós não somos as influenciadoras que são pagas para vestir lookinhos e vamos combinar, todas elas tem ficado iguais ou tem se passado com peças que claramente seriam marginalizadas se fosse uma mina de favela usando (vide camisas de time no hype).
Não há nada de fútil em querer roupas legais ou a última base que foi lançada no mercado. Talvez essa seja a razão que me fez achar o projeto PAN tão irrealista para mim, porque o problema é que fomos ensinados que consumir é a forma certa de se provar.
Se você é pobre como eu, você sabe do que tô falando. Eu sempre usei tudo que tenho até o fim, assim como, tenho roupas da minha adolescência em perfeito estado, e acho que continuará assim, porque para mim, roupas não são uma futilidade que compro todo mês, são peças que mostram quem é a Ana. O tipo de shampoo que escolho ou o blush que vai para minha bolsa, reflete a beleza que eu vejo em mim.
No fim, o que fica é, fora da internet você vai sustentar esse look quando a trend baixar e todo mundo começar a se vestir em um novo padrão? Você tá contando a história que quer com suas roupas?
Será que tudo que tô falando aqui faz sentido para vocês? Me contem como vocês vem consumo por aí!
Vícios do mês
Pensei muito sobre o que tem dominado meus momentos livre entre esse setembro e outubro. E fiquei em dúvida, amigos. Consumi muitas coisas diferentes nesses últimos dias e também voltei a fazer crochê (mas esse ainda não é uma constante).
Então já que estamos falando de TikTok, irei falar da minha diva das receitas mirabolantes e ingredientes diferentões que nunca tinha ouvido falar antes dela. Se você tem um algoritmo baseado em cultura pop e vídeos de receitas satisfatórias, como o meu, já sabe que estou falando da primeira e única Andressa Prato.
A diva me ensinou tantas plantas, temperos e ingredientes diferentes nos últimos meses, que o processo de cozinhar tem se tornado ainda mais prazeroso para mim. Enquanto estou na cozinha, fico repetindo as frases de impacto da diva em minha mente. Ela se tornou a minha Ana Maria Braga que fala um “Tchaaaauu” único no final de cada vídeo e faz as receitas mais lindas do universo.
Daria tudo para ser a amiga Barbara dela e receber convites para almoços e marmitas em minha casa com as criações de sorvetes e bolos da semana. Mas, esses são privilégios para poucos, mas fica aí a dica para vocês, meu grupinho de fofoca.
Nos vemos mês que vem?