Os 20 anos não são nada do que imaginei
A crise dos 20 parece cada vez mais eminente e tudo que eu quero é voltar pro útero da minha mãe!
Eu imaginei meus 20 anos desde que eu tinha uns 8 anos, quando comecei a ver novelas e como as pessoas adultas eram representadas. Me via aos 20 anos tendo um trabalho incrível, morando sozinha, num bairro muito legal de São Paulo, tipo Pinheiros (é um dos meus bairros favoritos, e, sim, é por causa do meu sobrenome), logo depois, me casando aos 26 e tendo crias aos 27. Lembra que eu disse que amo planejar coisas? Então, estava tudo traçado em minha cabecinha delulu… Well, as you imagined, o plano foi arruinado.
Cheguei a minha segunda década, capenga, xoxa, inconsistente e com um diagnóstico de transtorno de ansiedade. Em realidade, nada está correndo como eu havia sonhado, a vida adulta é drenante para caralho, essa é a verdade. E olha que só estou no ano 3 dessa década.
Dizem que os nossos 20 anos são os primeiros anos sendo adultos e por essa lógica, podemos dizer que somos baby adultos ou crianças com um 1,70m e uma conta bancária aberta.
A real é que quando estamos nessa idade tudo começa a acontecer, as maiores decisões da nossa vida, em maioria, são aos 20 e poucos. E em um mundo que as redes sociais são a nossa companhia diária é muito difícil não se comparar com a menina do Instagram que tem sua idade e já conquistou tudo. Mesmo que você saiba que a realidade dela foi intercâmbio pago pelos pais, muito QI (Quem Indica) para conseguir um bom emprego, enquanto a Nalu aqui, nasceu e se criou no Grajaú e sempre teve que se virar para chegar aonde queria.
Ai de mim que não fosse se matar para fazer curso de 2 línguas diferentes, estudar inglês sozinha e ainda me preparar para os vestibulares durante o ensino médio. Isso tudo, somado ao trabalho na firma do lado de casa que todos os dias o casal dono discutia
.Sinto que as coisas ganharam uma complexidade muito maior do que eu tinha me preparado. E tem sido um período que tenho me questionado muito sobre muitas questões. Haja horas com a terapeuta para me manter mais ou menos sã.
Eu me vi perdendo tantos amigos, e um WhatsApp que antes tinha 40 conversas ativas diferentes, hoje só tem mensagens do meu namorado e do grupo da família… e olhe lá. É um período que os seus ciclos se renovam, e quase como uma peneira, a vida se encarrega de retirar aqueles que já não cabem no seu mundinho. Mas cara, é um processo tão solitário, e de novo, volto às redes sociais, porque lá vemos grupos e mais grupos de amigos vivendo experiências e nesses anos, me vi com meu namorado e mais 3 amigos queridos.
Acho que é nos 20 que começamos a aprender a nos apreciar, como pessoa, como companhia, sabe? Esses últimos anos, em especial, no pós-pandemia, aprendi a fazer as coisas que eu queria mesmo estando sozinha. Quero ir para um show e nenhum amigo vai? Apois, irei sozinha. Quero assistir a um filme e sem ninguém para ir no cinema? Irei ver meu filme e estarei feliz com isso.
Porém, apesar da solitude ser saudável e legal de se viver, às vezes, bate muita solidão, eu também queria ter um grupão de amigos que vão em diversos lugares juntos. E, não me entendam mal, eu amo meus amigos próximos com todo meu coração, mas sabe aquela coisa de FOMO e sempre sentir que está de fora? Então, esse é meio o sentimento.
E quem me dera esse sentimento fosse só com meus amigos, sinto que a vida adulta também me afastou da minha família. Cara, eu descobri que minha tia estava grávida depois de meses e tudo porque não abri os grupos do WhatsApp por meses. Odeio o aplicativo de mensagens, e talvez, por isso, perdi muitos amigos e me afastei da minha família, e estamos em um mundo conectado, não? Ao mesmo tempo, não tenho agenda para ver minha família sempre e isso me faz sentir uma familiar horrível e esnobe.
Ainda tenho que lidar comigo mesma e com minha mente insalubre, na maioria das vezes. Me sinto tão atrás comparada a outras pessoas, tenho muitas paixões, mas ainda não encontrei aquilo que me faz falar: “esse é meu clubinho”. Já passeei tanto pela comunicação que nem sei como me descrever para recrutadores agora. Queria ser referência em algo, mas eu ainda não sei o que é esse algo e nem sei se estou perto de descobrir.
A segunda década da vida é, também, o momento que você que são traumas não são tão pequenos assim. Eles emergem do nada, naquele momento que você está se descobrindo nas suas relações com o outro (romanticamente ou não). Mas é nessa época que os resultados dos seus traumas de infância começam a transparecer e você pensa “E agora como eu lido com essa porra?”
Eu queria, na verdade, ainda quero, tantas coisas para essa minha segunda década de vida. Queria estar poliglota com propriedade, vivendo experiências que fiquei imaginando com 8 anos e, apesar de sentir que estou indo no meu ritmo e realizando meus sonhos, sempre penso: “mas será que vou conseguir mesmo? Será que não deveria ter feito isso antes? Será que as decisões que tomei foram certas?”.
Tantos pensamentos e dúvidas que não tenho nenhuma resposta para elas. Enquanto elas seguem sem resposta, eu vou me adaptando ao meu novo eu que surge e se mostra a cada segundo, para ser sincera. Sigo no meu passinho, torcendo para que seja o certo e tendo fé no que minha psicologa fala: “Enquanto estivermos vivos, temos escolhas e podemos começar de novo”. Afinal, estou na infância da adultice.
Será que os vinte e poucos são isso? Dúvidas constantes e decisões enormes para serem tomadas por uma criança adulta? É só pagar conta e rezar para estar se mantendo saudável e tomando as melhores decisões? Eu ainda não sei, mas se eu descobrir, te conto.
E aí, fica para mais uma conversa?