Se a moda não fala, grita… Que moda você está reverberando?
Em uma época onde todo mundo é igual, se expressar é um clamor ao estranho extraordinário.
Olá, meu querido grupinho de fofoca! Como a vida tem tratado vocês daí?
Esses dias na imensidão do Substack me deparei com o seguinte título: Você tá morrendo por falta de personalidade! Causa da morte: microtrends. I know choking and obvious. E pensei, hmm, acho que isso rende uma pauta com um toque de sociologia.
Há um tempo atrás vi um vídeo no TikTok analisando a escolha de look de Melanie Trump durante o trágico evento da posse do presidente dos Estragos Sumidos. No vídeo ele falou a icônica frase “a moda não fala, ela grita”. E assim como o título da newsletter isso ficou reverberando e rondando em minha mente por dias. Mas o que isso tem a ver com as tendências? Vou chegar lá.
Não é segredo para ninguém que vivemos tão acelerados e estimulados, que, às vezes, nem sabemos o que ou o porquê estamos consumindo o que estamos consumindo. Todos os dias uma nova tendência para se “inspirar”, todo dia uma nova personalidade pra criar.
A velocidade com que coisas surgem e desaparecem, é realmente, desesperador de assistir. Mas, é consenso que a moda é muito diferente de ter roupas que estão em alta. Não? A moda é uma ferramenta de identificação cultural milenar.
Por exemplo, na Idade Média, usar peças coloridas indicava nobreza, pois os pigmentos de tecidos eram caríssimos, e, em sua maioria, vinham de expedições ao oriente. Caminhando para o presente, outro exemplo são as Tobi Pants, calças muito usadas no streetwear, está diretamente ligada a uma peça de trabalho usada por pedreiros japoneses. Ufa, acho que me fiz entender aqui.
Agora, apertem os cintos para aprofundar essa discussão. Se a moda reflete o modo de vida de uma sociedade, seus valores e identidade, o que são as microtrends se não uma ferramenta de manobra das massas? Pensem comigo, quanto mais autêntica e ligada à sua sociedade, mais pensante é essa pessoa. Logo, difícil de manipular e consciente das nuances que nos atravessam diariamente.
Hora do dado, no ano de 2024 as postagens com a temática “Trad Wife” chegaram a quase 400 milhões de visualizações e o termo chegou ao pico de procura no Google em julho do mesmo ano. Já as estéticas “Old Money” e “Mulher elegante” aumentaram cerca de 40% comparado ao ano anterior. E é possível dizer que o Old Money foi a tendência que dominou o ano, em todos os seus desdobramentos.
Encontrou alguma semelhança com que falamos no início do texto com a relação da escolha de look da Melanie Trump em novembro? O conservadorismo tem adentrado, ou melhor, invadido cada vez mais a moda e a forma como a vemos.
Adolescentes de 16, 17 anos fissuradas em alfaiataria e ser sofisticada e elegante, enquanto também são influenciadas a almejarem ser mulheres do lar, a famosa Esposa Troféu.
Se você acha que esses passos para trás que estamos dando não tem nada a ver com uma grande manobra de manipulação, escuta só essa notícia.
A Laranja Podre dos Estragos Unidos atacou novamente e mostrou a que veio. Usando influenciadoras conservadoras, presentes nessa onda Trad Wife, para reforçar esse papel essencial da mulher e um bônus de 5 mil doletas, ele quer incentivar mulheres a parir, o máximo que puderem. No entanto, não há nenhuma previsão de criação de creches públicas ou auxílio-maternidade as recém-paridas. Nada mais do que máquinas de reprodução na visão do Laranja.
E há quem diga que a política não está em tudo.
Tá, mas o que eu e você temos a ver com isso?
Tudo e nada! Infelizmente, estamos numa roda de hamster em que estamos estimulados o tempo todo. E somos incentivados a consumir todas essas microtrends que surgem tão rapidamente que nem dá tempo de associar nosso consumo. De repente, estamos vivendo um retrocesso que a minha geração Quebrando Tabu jamais imaginou.
Mas tudo está nos detalhes e quem está atento a eles viu isso chegar muito antes de acontecer realmente. Estamos em um colapso do capitalismo, numa onda de pessimismo, que para quem já tá na merda, talvez, só veja solução ao olhar para trás. Afinal, tudo era melhor no tempo dos nossos pais, né? (contém ironia, pelo amor de Deus).
Somos vítimas de uma ansiedade coletiva que não passa, a ponto de nem sabermos qual é a causa da dor mais. Isso nos torna alvos perfeitos para consumir coisas que vão nos deixando cada vez mais um igual ao outro, a ponto de nem sabermos mais qual era o nosso gosto antes do algoritmo falar.
Quem é você longe do que os algoritmos têm te dito?
A moda é muito mais que uma combinação de peças para montar um “look aesthetic”. Imagine daqui a 100 anos — se ainda houver humanidade — o que a moda que consumimos vai estar falando para as futuras gerações. Tudo tão genérico, sem personalidade, quadrados (literalmente, mas isso é papo pra outra edição).
Estamos caminhando para um consumo que nos deixa cada vez mais manipuláveis a achar coisas absurdas normais. E engano seu de achar que isso não se aplica às milhões de trends que surgem todos os dias e que redefinem o padrão de beleza a cada vídeo de 15 segundos.
Afinal, é óbvio, o objetivo nunca foi te fazer parte desse mundo, e sim, te moldar ao bel-prazer de quem movimenta essa roda.
Volto a minha pergunta inicial: que moda você está gritando? E imploro, vamos voltar a ser gente, autênticos, com identidade, capazes de nos diferenciar entre milhões.
Vícios do mês
Mais um mês e eu sou extremamente previsível. Seria eu a hipocrisia pura sem autenticidade?
Eu poderia falar dos diversos joguinhos de senhora que passo horas jogando e que fazem meu namorado se perguntar “como?” até hoje. Ou das minhas horas gastas em novelinhas do TikTok, mas isso acabaria com minha reputação culta. Mas a real é que estou em uma era de seca mental, procurando novos estímulos que ainda não encontrei.
Então aqui vai mais uma recomendação de YouTuber: Léo Abreu. Além de excelentes receitas, o Léo entrega vlogs de viagem com degustação e me dá uma louca vontade de ter restaurante. Simplesmente nosso The Bear saudável da cabeça, acho.
Aqui meu último favorito, que é a série de abertura da nova pizzaria dele:
Depois de diversas pesquisas e idas e voltas nesse texto, temos mais uma edição. Beijinhos, grupinho! Nos vemos na próxima, né?