Só queria escrever em paz!!!!
Esse é um breve desabafo de uma redatora profissional que usa escrita como escape
Eu sabia que eu queria trabalhar escrevendo mesmo antes de eu saber como se escrevia, de fato. Na verdade, eu acho que escolhi a escrita muito antes de ela me escolher, eu amei, mesmo quando ela não me correspondeu. Acho que só nessas primeiras frases dá para notar que eu amo, AMO MESMO, escrever.
A magia de formar frases que logo criam um texto, que, por fim, contam uma história é encantador para mim, igual um canto de uma sereia. Me atrai, é minha maneira de desabafar, de colocar meus pensamentos em ordem, mesmo que, às vezes, não faça sentindo para ninguém mais, além de mim, a escrita costumava me trazer paz, ser meu antro de criatividade. Isso até o dia que eu escolhi cursar jornalismo… foi aí que a magia se desfez, como um circo mal montado.
Uma estudante de jornalismo em seu auge de alegria de viver, antes de ver a vida adulta.
Meu sonho de escrever sobre temas que eu acreditava e receber dinheiro sobre isso se destruíram no meu primeiro dia de aula, quando meu professor Moretti disse algo como: “A gente não escreve sobre o que importa para nós, escrevemos sobre temas que importam para a sociedade em nome de um veículo”. Como assim não vou escrever o que quero? Foi assim que percebi que redação de jornais não seria meu emprego dos sonhos, não se enganem, escolhi jornalismo depois de assistir O Diabo Veste Prada, eu sabia que seria difícil, só não sabia que teria que abdicar dos meus textos ‘livres’.
Meus textos são como filhos para mim, a ideia de criar eles em nível industrial sobre temas que nem me interessavam tanto, foi devastador para a Analu de 18 anos que queria ser jornalista cultural, pobrecita. Eu sentia que eu estava vendendo um pedaço de mim por um salário que nem valia o sacrifício (sim, jornalismo paga mal para um c***lho).
Fui para um outro caminho de carreira, o que foi muito bom, mas eu ainda sentia saudades de escrever, afinal tenho um diploma de jornalista. Comecei, então, a colaborar com um portal de entretenimento, o que foi uma lição e tanto, eu me sentia um papagaio xerox, tendo que entregar textos a velocidade da luz que não tinham nem uma profundidade, só repetiam com outras palavras os releases que recebíamos. Eu não conseguia lidar com aquilo. Me afastei, foquei em outros projetos, escrevi um livro reportagem (😍), colaborei com outros projetos (Gramofone Ativo) e ainda sentia falta de ganhar para escrever. Pobrecita2!
Comecei trabalhar com SEO, escrevia 25 textos por semana, e textos longos, cheios de palavras. Comecei a fazer freelas focados em escritas e me sentia cada vez mais vazia criativamente. O que antes era uma coisa para me ajudar a organizar os pensamentos, se tornou mecânico, com técnicas, limites de palavras, palavras-chave repetidas. Me sentia cada vez menos uma escritora, e mais uma máquina humana que digitava palavras.
Acho que o que estou tentando fazer com esse texto que passeou por toda minha carreira é resgatar minha criatividade e tomar a escrita de volta para minhas mãos. Porque, sendo bem sincera, não sei se tenho outro talento, eu me tornei uma comunicadora boa? Sim! Mas antes de tudo eu nasci escritora, contadora de histórias, seja falando de música, moda ou política. E essa foi uma das coisas que o curso de jornalismo não destruiu, a habilidade de ouvir pessoas e contar histórias. Isso é o que amo fazer, e, honestamente, eu faço muito bem.
Relendo esse texto, sinto que consegui aliviar um pouco da minha frustração com o mercado jornalistico e de comunicação. Só quero ter a oportunidade de escrever sem pensar em temas, palavras-chave, a quem importa, e sim, escrever para mim. Óbvio que ficarei feliz se tiver alguém para ler, além de mim e as vozes da minha cabeça, mas só quero ser livre para colocar em palavras coisas que importam para mim. Aqui se vai um texto com SEO horrível e fora de pauta!
E aí, fica para mais uma conversa?